Uma questão de limites?
Um assunto muito comentado e discutido atualmente mediante queixas dos pais, escola... é a questão da falta dos limites. Para muitos a explicação de comportamentos exteriorizados pela criança através da agressividade, birra, desobediência, autodestrutividade (no caso, por exemplo, do adolescente ingerir drogas lícitas ou ilícitas) está na falta de limites.
Assim, muitos pais em meio à cobrança da sociedade (e até de si próprios), procuram qual a melhor forma de impor limites aos filhos. Até mesmo, compram manuais onde as regras estão expostas, claras, evidentes, fáceis talvez. E, com tamanha clareza das explicações, os pais angustiados se indagam: como eu não consigo educar os meus filhos?
Pensando nestas questões é que recordo com muito carinho do psicanalista di Loreto quando falava dos limites (inclusive colocava uma entonação diferente, pois não gostava desta palavra, usava “limitiss”). Explicava que na relação entre pais e filhos, falar apenas sobre a falta ou a imposição de limites de forma isolada, não esclarece a complexidade da questão. Entre pais e filhos, segundo ele, o que tem importância e surte efeitos benéficos para a criança (consequentemente para os adultos que convivem com ela) é a intimidade da relação, os pais quererem estar junto dos filhos, cuidarem sem pechinchar; é a demonstração do afeto, do carinho. Por exemplo, abrir mão de horas de trabalho para estar ao lado do filho, por inteiro.
Esta relação amorosa vivenciada intensamente, com certeza, aumenta a confiança do filho nos pais, ajudando a criança a ter um registro de uma imagem positiva deles, contribuindo para acreditar que sempre poderá contar com esses adultos para sua sobrevivência e segurança, promovendo com isto, uma aproximação cada vez maior entre eles. Portanto, a qualidade da relação fará toda a diferença para a questão da imposição dos limites, pois para a criança será mais significativo e fácil entender, o porquê do sim e o porquê do não, vindo de alguém intimamente e amorosamente ligado a ela. Além disso, para a criança, será mais saudável assimilar e introjetar na personalidade os traços de caráter deste adulto e identificar-se com ele, havendo grandes possibilidades também, através deste processo, de vir a se tornar uma pessoa coerente respeitando o outro enquanto pessoa e consequentemente as regras.
Assim, podemos afirmar que é a partir da qualidade do vínculo, da imagem boa que os pais procuram preservar diante dos filhos, que a transmissão do que é certo ou errado, terá grandes possibilidades de ser aceita e assimilada pela criança.
Dessa maneira, a questão a se pensar não está nos livros das regras dos “limitiss”, mas sim na capacidade de querer exercer a função de pais, levando em consideração que ser pais, implicará dedicação e atitudes de amor e respeito para alimentar uma relação verdadeira e saudável, sem dar muita chance para críticas advindas da falta de limites, ou “limitiss”, como queiram.
NOELI SANCHEZ LISBÔA
CRP: 08/04143
Psicóloga Clínica
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